quinta-feira, 21 de julho de 2022

Programação - Festejos 2022


 223º Novenário e Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

(1799 – 2022)

 

Tema: CAMINHAR JUNTOS PARA CONSTRUIR UMA IGREJA MISSIONÁRIA

Lema: COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO

 

MOTIVAÇÃO

Irmãos e irmãs, é chegado o tempo de festejar!

Com a motivação do Papa Francisco para o Sínodo dos Bispos (2021-2023), a Igreja Católica em todo o mundo é convocada a percorrer juntos o caminho que leva a grande Assembleia Sinodal em 2023, este foi dividido por fases e por providência divina a fase diocesana de escuta se conclui no mês de Agosto, por isso celebraremos o 223º Novenário de Nossa Sra. da Conceição Aparecida, motivados pelo tema CAMINHAR JUNTOS PARA CONSTRUIR UMA IGREJA MISSIONÁRIA, e o lema desse ano nos aponta como podemos construir essa Igreja com COMUNHÃO, com PARTICIPAÇÃO e com os pés na MISSÃO. 

Dentro dos Festejos desse ano vamos abrir o ANO JUBILAR em vista da celebração dos 25 anos de Paróquia, do dia 12 de Agosto de 2022 a 12 de Agosto de 2023 celebramos com júbilo essa preparação espiritual pois temos a certeza de há 25 anos estamos a serviço do Evangelho sob a proteção de Maria. 

Ainda temos incertezas quanto a expansão da COVID 19 pelo mundo e principalmente sob nossa cidade, por isso pedimos que todos cumpram rigidamente os protocolos de saúde, usando mascaras e mantendo o distanciamento das cadeiras no espaço Celebrativo.

Confiantes nas bênçãos de Jesus, sobre a proteção de Nossa Senhora, celebremos com fé.

Fraternalmente,

Pe. Aldemar Lima

Pároco

 

Programação festiva

 

Ø Dia 05 de agosto de 2022 – Sexta-feira (Abertura)

06:00h - Alvorada festiva

17:00h – Procissão com o mastro (Concentração – Unidade Escolar Florisa Silva)

Em seguida Missa e Show de Abertura

Responsáveis pelo mastro – Terço dos Homens Mãe Rainha

Responsáveis pela Liturgia da Missa – Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus e Comunidade Nossa Sra. Da C. Aparecida (Bairro Centro)

 

Ø Dia 06 de agosto de 2022 – Sábado (1º Dia da Novena) – Solenidade Transfiguração do Senhor

00:00h – Oração (Igreja Matriz São João Batista- Sebastião Leal)

IV Caminhada rumo a Casa de Maria

18:30h -Terço Mariano – Terço dos Homens

Noitários – Pastoral da Pessoa Idosa e Comunidade Santa Cecília e Área Missionária Nossa Senhora das Candeias (Bairro Piçarra)

 

Ø Dia 07 de agosto de 2022 – Domingo (2º Dia da Novena)

18:30h -Terço Mariano – Mães que oram pelos filhos

Noitários – ECC, Grupo 1 - Mães que Oram pelos Filhos e Comunidade Santa Luzia (Bairro Bacuri)

 

Ø Dia 08 de agosto de 2022 – Segunda-feira (3º Dia da Novena) – S. Domingos

18:30h -Terço Mariano – RCC

Noitários – Pastoral da Criança e Comunidade São Cristóvão (Bairro Morada do Sol)


Ø Dia 09 de agosto de 2022 – Terça-feira (4º Dia da Novena)

18:30h -Terço Mariano – Grupo de Coroinhas

Noitários – Grupo 2 - Mães que Oram pelos Filhos e Comunidade Santos Reis (Bairro Caixa D’água)

 

Ø Dia 10 de agosto de 2022 – Quarta-feira (5º Dia da Novena) – São Lourenço

09:00h – Missa com os enfermos e idosos (Resp. PPI) (Parceiros - Sec. Mun. de Saúde, Sec. Mun. Assistência Social, Hosp. Mun. Rita Martins, SAMU, CRAS e ACS)

18:30h -Terço Mariano – Apostolado da Oração

Noitários – Pastoral do Dízimo e Comunidade Santo Antônio (Cágados)

 

Ø Dia 11 de agosto de 2022 – Quinta-feira (6º Dia da Novena) – Santa Clara

132 Anos de criação do Município de Bertolínia

09:00h – Missa com as Crianças (Resp. Coroinhas e IAM)

Convidados – Docentes e Discentes do Colégio Santa Teresinha, Colégio Arco Iris, Escola Mun. Tia Nair, Creche Tia Cotinha e Creche Dr. Alair Rocha e Sec. Mun. de Educação.

18:30h -Terço Mariano – Catequistas 

Noitários – RCC, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão e Comunidades São Sebastião (Placa e Málicas)

Convidados – Poder Executivo, Legislativo e secretariado Municipal.

 

Ø Dia 12 de agosto de 2022 – Sexta-feira (7º Dia da Novena)

24 Anos de ereção canônica da Paróquia (1998)

ABERTURA DO ANO JUBILAR MISSIONÁRIO

“Há 25 anos, nos caminhos da missão”

18:30h -Terço Mariano – Comunidades Rurais

Noitários – Dirigentes da Palavra de Deus e Comunidade Sagrado Coração de Maria (Pedreira).

Convidados - Paróquia São Raimundo Nonato (Canavieira)

 

Ø Dia 13 de agosto de 2022 – Sábado (8º Dia da Novena) – Santa Dulce dos Pobres

18:30h -Terço dos Homens

Noitários – Terço dos Homens Mãe Rainha e Comunidade Nossa Sra. das Dores (Cajazeiras)

Convidados - Paróquia São Pedro Apóstolo (Manoel Emídio)

TRAZER ALIMENTOS NÃO PERECÍVEIS PARA DOAÇÃO AS FAMÍLIAS CARENTES 


Ø Dia 14 de agosto de 2022 – Domingo (9º Dia da Novena) - Vésperas da Assunção de Maria

Dia dos Pais

07:00h – Missa com os Vaqueiros (Resp. Equipe de Liturgia) (Parceiro - Sec. Mun. de Cultura, Cidade e Turismo e Sec. Mun. de Esporte e Lazer)

18:30h -Terço Mariano – Pais

Noitários – Catequistas e Comunidade São José (São José) e Área Missionária Nossa Senhora dos Prazeres (Prazeres)

Convidados – Paróquia São João Batista (Sebastião Leal) e Filhos/as ausentes

 

223ª FESTA DA PADROEIRA

Ø Dia 15 de agosto de 2022 – Segunda-feira

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA

17:00h – Procissão em seguida Santa Missa de encerramento

Noitários – Grupos de Coroinhas e IAM e Área Missionária Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Bairro Xixá)

 

Todos os dias

12:00h – Oficio da Imaculada Conceição

18:30h – Santo Terço Mariano

19:00h – Momento devocional

Em seguida Santa Missa

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Festa do Divino Espírito Santo 2022 - Solenidade de Pentecostes


Na Solenidade de Pentecostes, conhecida em Bertolínia como a Festa do Divino, celebrada neste domingo, dia 05, às 19h, na Praça da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, foi marcada por uma sintonia de devoção, fé, amor e renovação, expressa de modo marcante pelos devotos e devotas do Divino Espírito Santo.

Após cinquenta dias da celebração da Páscoa, a Igreja Católica vivencia uma das celebrações mais importantes do calendário cristão: a celebração do Divino Espírito Santo que desceu sobre os apóstolos de Jesus e marca, desse modo, o nascimento da Igreja cristã.

Com o término da Peregrinação das Imagens do Divino pelas comunidades urbanas e rurais da Paróquia, as mesmas participaram ativamente da Celebração de Pentecostes, demostrando o valor da Unidade da Igreja, onde diversos são os dons, serviços e ministérios, mas o Espírito é o mesmo que age em tudo e em todos.

Confira as fotos. 









15ª Romaria da Terra e da Água do Piauí

 



O arcebispo metropolitano de Teresina, Dom Jacinto Brito, falou sobre a 15ª Romaria da Terra e da Água no Piauí, que vai acontecer em Piripiri nos dias 16 e 17 de julho, com o tema ‘Terra e Água, direitos sagrados’ e lema ‘Deus deu a terra aos seus filhos’.

Para o arcebispo, terra e água são direitos sagrados e fazem parte da dignidade humana:

Estamos planejando essa romaria para os dias 16 e 17 de julho, e, com a graça de Deus, realizaremos, porque ela já foi adiada por conta da pandemia, mas o clamar das águas, o clamor pela terra não foi adiado. Ele continua presente e nós queremos oferecer como Igreja de Deus, a nossa voz a todos aqueles que clamam por terra e água saudáveis. Oferecer a nossa voz para dizer que isso faz parte da dignidade humana. São direitos sagrados porque fazem parte da nossa vida diária.

Dom Jacinto também reforçou o convite para o evento e parabenizou a organização da romaria:

A Diocese escolhida para sediar este evento foi a Diocese de Parnaíba na cidade de Piripiri, uma cidade grande, marcada pela devoção à Nossa Senhora dos Remédios, a quem pedimos esse remédio para o grande drama da terra e da água em nosso meio. Então lhes convido a tomar parte. Queremos nos juntar à Diocese de Parnaíba, que nestes últimos três anos vem planejando esta romaria e desejamos com Dom Juarez e toda a equipe engrossar as fileiras para participar deste evento. Frei Leandro está coordenando esse trabalho com muito zelo e nós queremos ajudá-lo a alcançar este objetivo.

FONTE: https://cnbbne4.org.br/

quarta-feira, 2 de março de 2022

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2022


 

«Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido.

Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

 

Queridos irmãos e irmãs!

A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

1. Sementeira e colheita

Neste trecho, o Apóstolo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem [1]. Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.

O primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Enc. Fratelli tutti, 54). Durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem da chamada para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.

E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente; o laço estreito entre a sementeira e a colheita é reafirmado pelo próprio São Paulo, quando escreve: «Quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá» (2 Cor 9, 6). Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22).

Na realidade, só nos é concedido ver uma pequena parte do fruto daquilo que semeamos, pois, segundo o dito evangélico, «um é o que semeia e outro o que ceifa» (Jo 4, 37). É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui «grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Enc. Fratelli tutti, 196). Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.

A Palavra de Deus alarga e eleva ainda mais a nossa perspetiva, anunciando-nos que a colheita mais autêntica é a escatológica, a do último dia, do dia sem ocaso. O fruto perfeito da nossa vida e das nossas ações é o «fruto em ordem à vida eterna» (Jo 4, 36), que será o nosso «tesouro no céu» (Lc 18, 22; cf. 12, 33). O próprio Jesus, para exprimir o mistério da sua morte e ressurreição, usa a imagem da semente que morre na terra e frutifica (cf. Jo 12, 24); e São Paulo retoma-a para falar da ressurreição do nosso corpo: «semeado corrutível, o corpo é ressuscitado incorrutível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual» (1 Cor 15, 42-44). Esta esperança é a grande luz que Cristo ressuscitado traz ao mundo: «Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 19-20), para que quantos estiverem intimamente unidos a Ele no amor, «por uma morte idêntica à Sua» (Rm 6, 5), também estejam unidos à sua ressurreição para a vida eterna (cf. Jo 5, 29): «então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai» (Mt 13, 43).

2. «Não nos cansemos de fazer o bem»

A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a «grande esperança» da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação (cf. Bento XVI, Spe salvi, 3; 7). Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença. Com efeito, mesmo os recursos melhores conhecem limitações: «Até os adolescentes se cansam, se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam» (Is 40, 30). Deus, porém, «dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 29.31). A Quaresma chama-nos a repor a nossa fé e esperança no Senhor (cf. 1 Ped 1, 21), pois só com o olhar fixo em Jesus Cristo ressuscitado (cf. Heb 12, 2) é que podemos acolher a exortação do Apóstolo: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9).

 Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» ( Lc 18, 1). Precisamos de rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho [2]; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte. A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5).

Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar [3]Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal, encontrando no decurso dos séculos vias diferentes para fazer precipitar o homem no pecado (cf. Enc. Fratelli tutti, 166). Uma destas vias é a dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrastar estas ciladas, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral (cf. ibid., 43), feita de «encontros reais» ( ibid., 50), face a face.

Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7). Deus, «que dá a semente ao semeador e o pão em alimento» (2 Cor 9, 10), provê a cada um de nós os recursos necessários para nos nutrirmos e ainda para sermos generosos na prática do bem para com os outros. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. Enc. Fratelli tutti, 193).

3. «A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido»

Cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (ibid., 11). Por conseguinte peçamos a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistir na prática do bem, um passo de cada vez. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, que «é generoso em perdoar» (Is 55, 7). Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28).

A Virgem Maria, em cujo ventre germinou o Salvador e que guardava todas as coisas «ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19), obtenha-nos o dom da paciência e acompanhe-nos com a sua presença materna, para que este tempo de conversão dê frutos de salvação eterna.

Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica do bispo São Martinho, 11 de novembro de 2021.

Francisco

 


[1] Cf. Santo Agostinho, Sermones 243, 9,8; 270, 3; Enarratio in Psalmis 110, 1.

[2] Cf. Francisco, Momento extraordinário de oração em tempo de pandemia (27 de março de 2020).

[3] Cf. Idem, Angelus de 17 de março de 2013.


Fonte - VATICAN NEWS

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

NÚNCIO NA UCRÂNIA FALA SOBRE A SITUAÇÃO NO PAÍS E PEDE ORAÇÃO PARA QUE SE TENHA A CORAGEM DE ESCOLHER A PAZ

 

No dia seguinte à oração do Papa Francisco no Angelus para que se faça “todo esforço pela paz” na Ucrânia, onde os ventos da guerra sopram, o núncio apostólico, dom Visvaldas Kulbokas, relançou o apelo do Pontífice e exortou a não frear o diálogo entre as partes.

Há três semanas fizemos uma entrevista com o senhor, o que mudou desde então, qual é a situação na Ucrânia?

É claro que a situação já estava tensa há três semanas, mas tornou-se ainda mais tensa. O que estou percebendo é que há um nível muito alto de preocupação entre as pessoas, há também o medo. Entretanto, devo dizer que, em geral, os ucranianos também estão mostrando grande resiliência. Isto porque o conflito nos territórios orientais já vem ocorrendo há quase oito anos, de modo que existe também uma certa capacidade humana para lidar com situações de emergência. O medo é grande, a tensão é alta, mas mesmo assim as pessoas estão resistindo bastante bem.

Não sei se o senhor notou que na mídia ocidental se fala da grande tensão na Ucrânia. O senhor acha que isso realmente reflete o clima em que as pessoas vivem?

Claro que se pode dizer que há muita atenção porque é como se se pudesse sentir o cheiro da guerra, o que preocupa a todos. Isso preocupa aqueles que têm filhos, aqueles que vivem com idosos, mulheres grávidas, mas aqui o governo está tentando acalmar a população. E, na minha opinião, isto também faz parte da missão da Igreja Católica e, em geral, das igrejas e comunidades religiosas, de incutir pelo menos uma calma relativa mesmo em situações de emergência.

Como a Igreja Católica na Ucrânia interpreta a situação atual?

Fiquei muito contente de ouvir tantas homilias encorajadoras. O que se tem notado é que a oração pela paz tem sido cheia de fervor nestes dias. Você pode sentir a preocupação dos fiéis que vêm às paróquias, mas também se pode sentir uma oração profunda porque sabemos muito bem que a oração não é uma coisa qualquer, a oração tem um enorme poder de mudar os corações, de mudar o curso da história.

A impressão é que o diálogo neste momento está parado e que as partes não estão se ouvindo… O diálogo está encontrando obstáculos agora. O que ocorre é o que acontece nas famílias quando surge um conflito, que não surge naquele momento, mas existem causas anteriores que deram origem a esses mal-entendidos. Este é um aspecto… Quando o diálogo se rompe, a culpa é de muitos, em minha opinião, e não apenas de alguns diretamente envolvidos. O segundo aspecto, que é muito positivo, é que a Igreja redescobre a beleza de sua própria vocação porque, no diálogo político, escolher o caminho da paz significa ter muita coragem. Assim, quando rezamos pela paz, rezamos também pela coragem dos políticos.

A missão da Igreja é olhar para todos como irmãos, portanto, quando falamos de diálogo e quando rezamos pelo diálogo, como Igreja sabemos que temos a missão de iluminar o diálogo. Quando rezo pessoalmente pela paz, sei muito bem que a qualquer momento Nosso Senhor Jesus é capaz de iluminar um ou outro político, um ou outro soldado, e mudar diametralmente as decisões. É preciso muito pouco, apenas uma mudança de perspectiva de um lado para o outro, como um irmão, e as decisões mudam. Portanto, mesmo que a situação seja muito tensa, muito difícil, humanamente falando, é uma maneira de a Igreja redescobrir sua missão. Também podemos acrescentar que, como comunidade de crentes, somos convidados a contribuir para a construção da sociedade, das nações, dos países, mas esta construção nunca significa ir contra alguém, significa acima de tudo construir nós mesmos, a unidade, a compreensão. Também significa construir um maior entendimento entre as igrejas, porque quanto mais unidos estivermos, mais fortes estaremos dentro e mais capazes de dar um testemunho do Evangelho aos outros.

Com informações do VaticanNews e CNBB


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

COLETA DA SOLIDARIEDADE, DA CF 2022, CONTRIBUI PARA A PROMOÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, O COMPROMISSO COM OS POBRES E A VIDA PLENA

 


Neste ano, a Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor”  (Pr 31,26). Seu início se dará na abertura da Quaresma, dia 2 de março, na Quarta-Feira de Cinzas.

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) destaca que “a Quaresma é um tempo favorável para a conversão do coração ” e que a a CF, realizada pela Igreja no Brasil desde 1964, tem como propósito ser um caminho para que os cristãos vivam a espiritualidade quaresmal com o sentido de mudança e transformação pessoal rumo à solidariedade a um problema concreto da sociedade brasileira.

Em 2022 será a terceira vez que a Igreja no Brasil vai aprofundar o tema da educação em uma Campanha da Fraternidade. Desta vez, a reflexão será impulsionada pelo Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco.

“Ao longo da  caminhada quaresmal, em que a conversão se faz meta primeira, recebemos o convite para busca os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação”, convida a presidência da CNBB.

Deste modo, a Campanha da Fraternidade de 2022 convida a todos a promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

Participe da Coleta da Solidariedade

Do total arrecadado na Coleta para a Solidariedade, 60% fica na própria diocese e é gerido pelo Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS) com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% compõem o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que é administrado pelo Departamento Social da CNBB, sob a orientação do Conselho Gestor da CNBB.

Bispo, padres, religiosos(as), lideranças leigas, agentes de pastoral, colégios católicos e movimentos eclesiais são os principais motivadores e animadores da Campanha da Fraternidade em suas comunidades, paróquias e dioceses.

A Igreja espera que todos participem oferecendo sua solidariedade em favor das pessoas, grupos e comunidades, pois “ao longo de uma história de solidariedade e compromisso com as incontáveis vítimas das inúmeras formas de destruição da vida, a Igreja se reconhece servidora do Deus da vida”.

O Dia Nacional da Coleta será no próximo 10 de abril, Domingo de Ramos. Os fieis poderão realizar suas doações, para aplicação em projetos sociais, na conta indicada abaixo, ao longo de todo o ano. O comprovante do depósito precisa ser enviado por e-mail para financeiro@cnbb.org.br

Banco Bradesco
Agência: 0484-7
Conta corrente: 4188-2 (CNBB)
CNPJ: 33.685.686/0001-50

Outras informações sobre a Campanha podem ser consultadas em: https://campanhas.cnbb.org.br/

Subsídios

A cada ano, o Setor de Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB) com a Edições CNBB produzem e preparam uma série de subsídios para diferentes públicos com o objetivo de promover, a partir de diferentes realidades, a reflexão e a ações propostas em torno da Campanha da Fraternidade. Estes subsídios estão agrupados no Manual da CF 2022.

 

FONTE: https://www.cnbb.org.br/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A Igreja no pós pandemia: desafios pastorais

 



Por Maria Cecilia Domezi*

 Introdução

No dia 27 de março de 2020, foi um sinal dos tempos o vazio plenificado de sentido humano envolto pelo mistério divino na imensa praça de São Pedro. Francisco, bispo de Roma, ali caminhou sozinho, carregando no coração a dor da humanidade e do mundo. Mostrou que a cruz vence o absurdo, liberta-nos do medo e nos dá esperança. Conclamou todos a possibilitar “novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade”. E fez esta oração:

Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-te: “Acorda, Senhor!” (VATICAN NEWS, 27 mar. 2020).

Neste mundo enfermo, são muitos e urgentes os desafios pastorais para a Igreja, que, como insiste o mesmo papa Francisco, é chamada a ser Igreja em saída.

 

1. Sair do centralismo clerical e do culto sem vida

É teologia fontal da Igreja cristã que o batismo estabelece entre seus membros uma igualdade fundamental. De fato, o apóstolo Paulo escreveu: “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gl 3,28).

Com o tempo, porém, as relações fraternas e igualitárias entre os membros da Igreja foram contaminadas por desigualdades e discriminações. As mulheres, submetidas desde muito cedo ao crivo do patriarcalismo, têm sido as mais prejudicadas. Os ministérios foram clericalizados e hierarquizados, com nuances estranhas à mensagem e à prática de Jesus. Isso resultou numa institucionalização empobrecida e fechada no mundo clerical masculino, em detrimento do carisma (SOBERAL, 1989, p. 175-177; 290; 331-332).

No Concílio Vaticano II, o aggiornamento da compreensão da Igreja sobre si mesma deu primazia ao povo de Deus em sua totalidade. A partir do concílio e com base na dignidade de todas as pessoas batizadas, a hierarquia e os ministérios específicos são redimensionados. Por isso, o papa Francisco afirma que as funções na Igreja não legitimam a superioridade de uns sobre os outros. Acima do ministério sacerdotal está a dignidade e a santidade acessível a todos e todas (EG 104).

Nos meses atípicos da pandemia, não faltaram testemunhos de atuação de membros da Igreja conscientes dessa doutrina e coerentes com ela. Segmentos do laicato católico, junto com sacerdotes, religiosas e religiosos, prepararam e conduziram, na internet, importantes seminários, ciclos de formação, momentos de espiritualidade e de liturgia que celebra a vida e a luta. A ação pastoral caminhou, com seus serviços específicos, na comunhão das Igrejas locais e da Igreja universal. E o exercício consciente da “cidadania batismal” se fez sentir, na corresponsabilidade de todos enquanto participantes do ministério comum de líderes-pastores, sacerdotes e profetas.

No entanto, também apareceram descompassos: o de um laicato reduzido a ajudante do padre e quase somente ao redor do altar do culto, e o de padres restritos ao altar, que enviaram aos fiéis mensagens quase sempre de mão única, sem espaço aberto para o diálogo. Está certo que muitos sacerdotes saíram pelas ruas a pé, em cima de caminhonetes e até sobrevoando de helicóptero para dar a bênção do Santíssimo Sacramento. Famílias esperaram durante horas, reunidas em oração. Transformaram em capelas suas garagens, varandas, janelas, com toalhas estendidas, flores, velas e imagens de santos de devoção. Emocionaram-se e se sentiram consoladas. Ali estava o rico potencial do catolicismo popular.

A questão é que a bênção não pode ser só de passada, num vazio de vínculo e de compromisso com as pessoas em suas realidades e situações específicas. Ainda mais porque o pluralismo religioso chama a Igreja a superar aquele modo de cristandade que se impõe como religião de toda a nação. A Igreja em saída empenha-se numa construção como que artesanal da abertura ao outro, criativamente, com o ecumenismo que contribui para a unidade da família humana (EG 244-245). E a dádiva da bênção divina virá pela consciência de que a imagem de Deus está gravada na pessoa de quem sofre:

São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Para celebrar um culto agradável ao Senhor, é preciso reconhecer que toda pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus. De tal consciência deriva o dom da bênção divina, atraída pela generosidade praticada para com os pobres. Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres (FRANCISCO, 2020a).

Nessa dinâmica que dá vida ao culto, também é preciso repensar a pastoral voltada para as famílias. Estas, tantas vezes destroçadas e cada vez mais marcadas pela pluralidade religiosa, estão longe daquele modelo de moral familiar sob o controle do clero católico para manter a sociedade hegemonicamente católica.

A pastoral familiar precisará de todo o envolvimento e ajuda da comunidade eclesial para que seus animadores e agentes estejam em permanente formação, cultivando a espiritualidade na interação com o engajamento social. Como Jesus ao aproximar-se da viúva que enterrava seu filho único (Lc 7,11-17), da sogra de Pedro enferma (Lc 4,38-40), de Jairo e de sua filha que estava morrendo (Lc 8,40-56), é imprescindível a proximidade com as famílias em sua real condição de vida e, agora, com as marcas dolorosas da pandemia, para ajudá-las a experimentar a misericórdia de Deus (CNBB, 2019, n. 139).

Na realidade brasileira, principalmente nas grandes cidades, as famílias são atingidas por isolamentos permanentes e indeterminação de lugar. Muitas delas tornam-se pequenos aglomerados de indivíduos isolados, sofrendo com a crise econômica e o desemprego, e com uma rotina marcada pelo medo e pelo desamparo. Um culto que se furte a essa realidade e não se paute no direito e na justiça torna-se ofensa a Deus. Na palavra divina “quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13), está o princípio ético absoluto que inclui  todos e põe a vida antes da norma e do culto (PASSOS, 2020, p. 118-119).

As famílias têm o amor vivido, que é força para toda a Igreja (AL 88). E grupos de famílias podem constituir núcleos comunitários onde a Igreja se reúne para meditar a Palavra, rezar, partilhar a vida e o pão (CNBB, 2019, n. 140).

 

2. Ser Igreja na comunhão de pequenas comunidades

Por um lado, faltam-nos estudos, fundados na objetividade científica, a respeito da vivência dos católicos durante o isolamento social, longe dos padres. Sabemos que é real a crescente secularização, assim como a tendência aos arranjos pessoais de crenças e práticas religiosas em meio à modernidade líquida.

Por outro lado, testemunhos de diversos amigos falam da força do catolicismo popular, no qual se está historicamente habituado a não sentir tanta falta da presença do sacerdote. Podemos lembrar o ciclo da mineração do ouro na história do Brasil. O poder central da colônia proibiu a presença do clero religioso e submetia a rígido controle os padres seculares. Em meio às dores da escravidão, porém, ali nas Minas Gerais, forjou-se um modo de Igreja da base, de face leiga e devota, comunitária, fraterna e até certo ponto subversiva da ordem injusta e cruel que se impunha. Junto com alguns freis e padres místicos e andarilhos, os ministérios eram exercidos por capelães de beira de estrada, beatos, festeiros, fundadores de santuários, membros e dirigentes de irmandades devotas dos santos.

Essa trilha histórica do catolicismo popular, com seu sulco profundo, preservou-se apesar do empenho romanizador da hierarquia da cristandade. Seu referencial foi importante para a irrupção insuspeitada das comunidades eclesiais de base, no pentecostes do Concílio Vaticano II, que a Igreja da América Latina abraçou de modo original desde a Conferência de Medellín. Como afirma o Documento de Aparecida, elas “demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres”. A serviço da vida na sociedade e na Igreja, são fonte e semente da multiplicidade dos ministérios eclesiais (DAp 179).

Será imprescindível a atuação de muitas pequenas comunidades eclesiais missionárias nas ruas, condomínios, aglomerados, edifícios, unidades habitacionais, bairros populares, povoados, aldeias e grupos de afinidade. No encontro de comunidades que celebram a Eucaristia, sacramenta-se a privilegiada comunhão com a Igreja local, os vínculos fraternos se fortalecem, partilha-se a vida, há compromisso em projetos comuns e impulsiona-se a missão em meio à sociedade (CNBB, 2019, n. 85).

No mundo pós-pandemia, o centralismo na matriz paroquial não será oportuno, tampouco a concentração de massas de católicos em grandes templos. Quando forem possíveis, o encontro e o culto em catedrais, templos grandes, estádios serão de comunidades vivas em comunhão e participação. Na Eucaristia, sacramento da unidade de toda a Igreja, estará a vivência eucarística de todos os membros em seu cotidiano.

As mulheres, especialmente, têm dado testemunho dessa dimensão eucarística no cotidiano das casas. Como observa a teóloga inglesa Tina Beattie (2020), surgiu uma Igreja doméstica que dissolveu fronteiras entre a liturgia formal, mediada por um sacerdócio exclusivamente masculino, e um mundo doméstico mais informal, de liturgias caseiras e rituais improvisados, muitas vezes presididos por mulheres. Elas assumiram o sacerdócio da casa e da criação, e tornaram eucarísticas as refeições.

 

3. Ser Igreja em defesa da vida, sobretudo da dos mais pobres e vulneráveis

A Igreja em saída é decididamente missionária. Deixa de ser autorreferencial e preocupada em ser o centro, presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Sai em direção aos outros e chega às periferias humanas. É a casa do Pai aberta a todos e é mãe de coração aberto. É preferível que esteja “acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas” a enferma pelo próprio fechamento em si (EG 46-49).

É claro que os recursos econômicos são necessários, como também as estruturas eclesiásticas societárias e jurídicas. Será preciso, porém, vencer a tentação de persistir na manutenção da falsa segurança na grandeza e no poder. E, no âmbito da sociedade, profeticamente dizer não à economia de exclusão. “Esta economia mata!” Ninguém é descartável (EG 53-56). Nessa perspectiva, são antievangélicas as barganhas com governantes opressores (CNBB, 2020a). Como disse o papa Francisco no final do Regina Coeli, em 31 de maio de 2020, “nós, pessoas, somos templos do Espírito Santo; a economia não”.

Que não se cobre dos paroquianos, já tão angustiados pela crise econômica e pelo desemprego, uma sobrecarga de obrigações com quermesses, festas e campanhas de arrecadação de dinheiro. A exemplo das primeiras comunidades cristãs (At 2,42-47 e 4,32-37), é hora de encorajar-se uns aos outros para a mútua ajuda, leigos e sacerdotes, compartilhando a própria pobreza, as dádivas da criação, o tempo a dedicar ao próximo, os dons de cada um. Na Igreja local correspondente à diocese, uma caixa comum será oportuna para diminuir a desigualdade econômica entre os membros do clero e socorrer os que estejam em necessidade.

Desse modo, a Igreja testemunhará ao mundo que a vida tem de estar em primeiro lugar. O Concílio Vaticano II afirma que o desenvolvimento econômico deve permanecer sob a direção do ser humano, mas não deve ser deixado só a cargo de uns poucos indivíduos ou grupos economicamente mais fortes, nem exclusivamente da comunidade política, nem de algumas nações mais poderosas (GS 65).

Em 24 de abril de 2020, numa nota reiterativa do Pacto pela Vida e pelo Brasil, de diversas organizações voltadas para o bem comum, a CNBB afirmou que a economia deve estar a serviço da vida, na perspectiva da Doutrina Social da Igreja. Além disso, conclamou toda a sociedade brasileira e os responsáveis pelos poderes públicos “a se libertarem dos vírus mortais da discórdia, da violência, do ódio”, unindo-se na defesa da vida, especialmente a dos mais pobres e vulneráveis.

Como Igreja em saída, temos de nos lançar nos serviços de cura da humanidade e do mundo. É bem oportuna a metáfora do papa Francisco da Igreja como um hospital de campanha:

Aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de todo o resto. Curar as feridas, curar as feridas… E é necessário começar de baixo (FRANCISCO, 2013b).

A Igreja como hospital de campanha é a que faz diagnósticos, identificando os sinais dos tempos; faz prevenção, criando um sistema imunológico ao vírus do medo, do ódio, do populismo e do neocolonialismo; e faz convalescência, com o perdão que ultrapassa os traumas (HALÍK, 2020).

Nesse modo de atuar na sociedade, como membros da comunidade eclesial, ajudaremos as pessoas a se libertarem da indiferença consumista, a cultivar uma identidade comum e uma história a ser transmitida para as novas gerações, a recuperar e desenvolver os vínculos que fazem surgir novo tecido social. Cuidaremos do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, na consciência solidária de habitarmos numa casa comum que Deus nos confiou (LS 178).

 

Referências bibliográficas

BEATTIE, Tina. As mulheres e a Igreja pós-pandemia. Revista IHU On-Line, São Leopoldo, 5 jun. 2020. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/599690-as-mulheres-e-a-igreja-pos-pandemia-artigo-de-tina-beattie>. Acesso em: 20 jun. 2020.

CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (DAp). Brasília, DF: CNBB; São Paulo: Paulus/ Paulinas, 2007.

CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2019-2023. Brasília, DF: CNBB, 2019. (Documentos da CNBB, n. 109).

______. Nota de esclarecimento, 6 jun. 2020a. Disponível em: <https://www.cnbb.org.br/a-igreja-catolica-nao-faz-barganhas-afirma-nota-de-esclarecimento/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

______. Nota oficial da presidência, 29 abr. 2020b. Disponível em:  <https://franciscanos.org.br/noticias/posicionamento-da-cnbb-em-defesa-da-democracia-pela-justica-e-pela-paz.html>. Acesso em: 20 jun. 2020.

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes: sobre a Igreja no Mundo Atual (GS). In: ______. Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos, declarações. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1989.

FRANCISCO, papa. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (EG). São Paulo: Paulus/Loyola, 2013a.

______. Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia: sobre o amor na família (AL). São Paulo: Paulinas, 2016.

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______. Carta ao presidente da Colômbia, Iván Duque Márquez, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente. Vatican News, 5 jun. 2020b. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-06/papa-carta-presidente-colombia-dia-mundial-meio-ambiente.html>. Acesso em: 20 jun. 2020.

HALÍK, Tomás. Igrejas fechadas: um sinal de Deus? Revista IHU On-Line, São Leopoldo, 3 maio 2020. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/598553-igrejas-fechadas-um-sinal-de-deus-artigo-de-tomas-halik>. Acesso em: 20 jun. 2020.

MAYER, Tânia da Silva. Igrejas domésticas em tempos de pandemia. Dom Total, 7 abr. 2020. Disponível em: <https://domtotal.com/noticia/1435277/2020/04/igrejas-domesticas-em-tempos-de-pandemia/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

PASSOS, João Décio. O vírus vira mundo: em pequenas janelas da quarentena. São Paulo: Paulinas, 2020.

SOBERAL, José Dimas. O ministério ordenado da mulher. São Paulo: Paulinas, 1989.

VATICAN NEWS. Papa Francisco: abraçar o Senhor para abraçar a esperança, 27 mar. 2020. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-coronavirus-bencao-urbi-et-orbi.html>. Acesso em: 20 jun. 2020.

 

* Maria Cecilia Domezi

doutora em Ciência das Religiões e mestre em Teologia e em História Social, leciona História da Igreja no Instituto Teológico São Paulo (Itesp). Entre seus livros está Mulheres do Concílio Vaticano II, publicado pela Paulus. Tem experiência de trabalho pastoral e assessoria às CEBs.